segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Zé Maria


Rio de Janeiro, 28 de março de 2009.



Eu tenho tido sonhos recorrentes com a morte. Fugir do assunto é tolice. Acho saudável encarar os fatos, colocar em pauta:

O pior da perda, a meu ver, é essa coisa que não se explica de tão de repente você estar só. "Como assim? Não faz nem tanto tempo ele (a) estava aqui, e agora...?" Acho que é o que mais dói, o que mais machuca.

Outra coisa que eu também não entendo é essa forma estúpida como as pessoas "desaparecem".
O mundo está soltando o seu grito de alerta, angústia e desespero...Por que não o ouvimos?

Como é possível para um indivíduo tirar a vida de uma outra pessoa da forma mais banal e não se dar conta do imenso estrago que aquilo vai causar?
Aquele ser em quem esbarramos na rua, aquele indivíduo que pisa no nosso pé (com ou sem esse propósito), aquele camarada pode não ter a menor importância nas nossas vidas. Ele pode ser inútil pra nós, indiferente, desnecessário. Mas para alguém ele não é o "Zé ninguém". Para alguém ele pode ser o pai, o filho, o irmão, o tio Zé... ele pode ser o professor Zé, o Zé sapateiro, o Zé empresário, o Zé mecânico... o Zé alguém. Existe alguém que o ama, que o espera, que precisa dele. Existe alguém para quem ele é um ser único, da maior importância.

Eu não espero mais a utopia de ver todos os homens amando uns aos outros como a si mesmo. Mas é tão importante que eles se respeitem. Que reconheçam o valor do outro, senão para si, para um alguém.

A tolerância se faz urgente!

E por que será que a simples cogitação da perda não nos desperta para essas urgências? Para sermos mais amáveis, mais ternos, mais gentis com aqueles que amamos e com todos de um modo geral. Por que esse despertar é tão momentâneo?
Vamos esperar mais um avião cair? Vamos esperar nossas crianças serem violentadas? Vamos ver no noticiário as mães chorando a perda de seus filhos, até que um dia seja a nossa mãe a aparecer no 'Show da Vida'?

Pois é isso mesmo. Fiquemos todos de braços cruzados, olhos cerrados... Em boca fechada não entra mosca.
Fiquemos inertes, aguardando o próximo sonho/pesadelo. Porque é só quando eles nos assombram, é quando o Zé Maria vem, que a gente se da conta do tempo perdido.

Eu sei que vou me arrepender das palavras que eu não disse, dos abraços que eu não dei, dos minutos a mais que eu me neguei a ficar.

As vezes me pego achando graça dessa minha fixação com a morte, desse meu teatro mental. As vezes acho que não devo me levar a sério. Tenho um jeito tão gaiato de me revelar, e quem nota?

Quando essa melancolia estranha passar, eu espero que as pessoas percebam os meus sinais.


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