sábado, 25 de abril de 2009

Entre Parentes(es)

Nesse feriado de Tiradentes (21 de abril) fui ao aniversário de 80 anos de um tio distante. Lá, encontrei uma boa porcentagem de parentes ainda mais distantes, alguns aos quais não via há tempos. Tios (as), primos (as), esposos (as) de seus respectivos.

Isso me fez refletir sobre: como a vida nos leva a esse distanciamento?

Um dia essas mesmas pessoas estiveram tão próximas, tão íntimas, tão ligadas, e agora só o que as une é um detalhe no nome, um vestígio no sangue, um cantinho na memória, um pedaço na história.

Esse é o ciclo da vida, não é?

As pessoas casam, têm filhos, trabalham, viajam, tomam seus rumos...E ficam a mercê de acontecimentos simbólicos como esse para se reencontrarem com o seu passado, sua origem.

Muito estranho pensar que aqueles “estranhos” são minha “família”, meus parentes. E passar pelo habitual exame de: “Essa é de quem?”, “Faz o que?”, “Quantos anos tem?”, “Casou?”, “Tem filhos?”.

Muito estranho!

Pensei se não seria mais fácil se família se resumisse em pai, mãe, irmãos, avós e um ou outro tio e primos mais chegados. Mas trata-se de um ciclo, a família cresce e o circulo vai se alargando. É assim! =/

Eu já não vejo o meu irmão cotidianamente desde que ele saiu de casa e casou. Curiosamente nos encontramos mais nos ensaios do Salgueiro (onde anualmente ele é compositor concorrente com o samba 18) do que em outra situação qualquer.

Tenho agora uma priminha nova, filha do meu primo, que só vejo em datas específicas como a Páscoa. E ela vai crescendo sem que eu perceba.

Esse ano uma de minhas tias resolveu mudar-se da casa da minha avó, e leva consigo dois dos meus primos com os quais cresci e brinquei na infância. Se já era difícil antes, sei que com a mudança tão repentina não nos veremos mais ainda.

Dificilmente estamos todos reunidos.

Há que se esperar outra data simbólica, para trocarmos risos, idéias, lembranças outra vez.

Ok, vem aí o dia das mães!

Em definitivo, ficamos cada dia mais velhos, mais tolos, mais distantes.

Bem cantava Elis:

Nada Será Como Antes – Bituca / Ronaldo Bastos

Eu já estou com o pé na estrada

Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

domingo, 19 de abril de 2009

Rabo de Lagartixa...


Eu grito baixo, estouro sutilmente, brigo mansamente, quebro e me refaço...Como o rabo da lagartixa que se regenera, mesmo depois de esmurrado.

Eis que estou de pé novamente, renovada de esperança, cheia de fé e alegria. Ainda não me sinto plena, mas os dias estão mais leves. Eu estou mais leve agora.

E amanhã?

Nunca se sabe, aguardo a vida me dizer o que será.

Chico:

O que será (A flor a Terra) – Chico e Bituca

O que será que será
Que andam suspirando
Pelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinando
No breu das tocas?
Que anda nas cabeças?
Anda nas bocas?
Que andam acendendo
Velas nos becos?
Estão falando alto
Pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...

O que será? Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...

O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

d' Pressão!

Descobri que tenho bruxismo.

E descobri também que, uma ora ou outra, tudo aquilo que você guarda do mundo vem à tona. Como uma rolha no oceano.

O corpo humano é uma máquina fantástica, e Deus (ou quem quer que tenha nos criado) não deixa falhas. Nós é que deixamos!

Sabe aquele “sapo” que você considerou melhor engolir? Sabe aquele sapato apertado que você continua a usar? Sabe aquele desaforo que você levou pra casa? Em prol da paz na terra, da harmonia entre os homens, e do bem no mundo... Sinto lhe informar, querido (a), mas os seus sacrifícios têm um preço alto!

Saiba: tudo aquilo que você achou por bem guardar para si esse tempo todo, transformar-se há (um dia) no seu próprio dragão. E quando você menos esperar, perceberá que há um câncer a lhe corroer por dentro.

E agora grite: Viva aos questionamentos! Viva aos pratos limpos!

Grite!

Estou a ponto de um colapso! Estou a ponto de explodir com o mundo!

Tomada por uma insatisfação que a minha razão maquia falsamente em tons pastéis, como sendo um simples cansaço ou tédio juvenil. Mas a minha emoção sabe perfeitamente que não é. Antes fosse.

Maldita consciência a minha, que já não me permite dormir sem sobressaltos, sem desconforto, sem angustia. Acordar é um martírio cada vez maior...

Mas a minha razão em tons pastéis, em eterna vigilância, sopra mansamente em meus ouvidos: - Não é nada. Você não tem do que reclamar!

Eu realmente não devia reclamar. Eu tenho família, dois ou três amigos de confiança(?), teto para dormir, arroz e feijão no prato. Estou estudando, conhecendo gente, aprendendo coisas...Que mais se há de querer? A vida é boa pra mim...

Tudo estaria tão bem, não fosse aquele câncer. Aquele câncer a me corroer por dentro, que ainda me fazia trincar e ranger os dentes a noite.

Uma fadiga do mundo e sua falsidade, uma raiva da gente e sua demência, um temor do tempo e sua inconstância...Uma puta insatisfação com o que está! Com o modo como as coisas são (ou estão).

Descobri-me intolerante à vida desse modo. Incompreensível a meias verdades, meios sentimentos, meias palavras. Descobri-me inata ao papel secundário nas tramas da vida. Não suporto mais o razoável, o mediano. Esse + ou - que não se define.

Eu quero as cores de Almodovar em mim! Eu quero...

Eu ainda não sei exatamente o que eu quero, mas estou tão certa do que me sufoca e preciso extirpar de mim...

Os espinhos da rosa...

Eu não gosto de escrever sobre mágoas, sobre coisas ruins que as pessoas me fazem, pois prefiro esquecê-las, superá-las. Acontece que, quando elas me doem demais, escrever sobre o assunto me ajuda a refletir e aliviar minhas tensões.

Eu não sei o que é pior: Magoar uma pessoa estando consciente de sua atitude, ou magoar inconsciente da dor que causa.

Quando há consciência dos atos podemos diagnosticar uma maldade calculada, sádica, fria, porém honesta, corajosa. Quando essa consciência não existe, o que vejo (além de certa inocência em alguns casos) é o total descuido com o outro. E essa falta de zelo com o próximo não é “menos pior” do que o resto. Significa, portanto, irresponsabilidade, egoísmo.

Porque amar exige esse cuidado. Amar exige pensar no outro, antes mesmo que em si próprio até.

Então como podem as pessoas ofenderem inconscientes? Como podem NÃO refletir suas palavras e atitudes? Não saberem o peso de sua palavra?

Seguem ferindo distraidamente. Tal qual uma rosa repleta de espinhos.

Nunca vi fazer doer, chorar...com tanta sutileza. Nunca vi!

domingo, 5 de abril de 2009

Lavoura Arcaica...


Depois de tanto tempo de abstinência chagamos a abril de 2009. Um ano novo, caminhando a passos largos sobre o tempo.

Novidades? Continuo estudando e agora falta pouco para concluir o curso de enfermagem, só mais alguns meses, talvez setembro. Ficamos à mercê da burocracia. Em maio termino o estágio de Fundamentos de Enfermagem e parto provavelmente para o estágio de Materno.

Às vezes me ponho a pensar sobre as minhas escolhas. Tão curioso a forma como cheguei aqui. Dois anos de reclusão, de estagnação para então despertar para vida novamente.

Foram preciso?!

Ahh sim, aprendi que não se ultrapassa o tempo das coisas com as nossas vontades, os nossos caprichos. Quando fazemos isso o resultado é completamente diferente do que deveria ser. Fico pensando: até que ponto somos determinantes em nosso destino, sorte, fado???

O que é "Deus" e o que somos "nós"?

Eu tenho entregue muito de mim ao que faço atualmente. Estou apostando fichas altas nesse jogo. Mas taurina que sou, prefiro manter os pés no chão, evito expectativas, tenho uma fé enorme. E existe sim um retorno, uma certa "recompensa" no esforço. Isso ajuda a permanecer firme, continuar mesmo diante das dificuldades.

...

Ai, eu tenho tanto a agradecer pelo ano que passou. 2008 me foi tão especial...
As pessoas, os aprendizados, os laços que se formaram...mesmo aqueles que passaram tão brevemente por mim.

E eu que sempre questionei a transitoriedade das coisas, hoje compreendo que a vida é feita de ciclos. Que o arco-íres, o eclipse, o cometa encantam a vida e não deixam de ser belos por serem passageiros.

...

2009 é a continuação da estrada, é tempo de espera para as sementes que plantei em 2008 possam germinar, crescer...

E por falar em germinar...

Vou ser tia!!! **
Uma vida nova está a caminho...
Minha irmã está grávida
do(a) meu(minha) afilhado(a)!!
Depois do medo, o amor enfim!!

** Eu já tenho muitos sobrinhos de coração e agora terei o primeiro de sangue. A relação de afeto não muda, é a mesma, mas isso mexe de uma maneira especial com a gente. Trata-se de uma continuidade. Um novo ciclo, entende?! =)

E a vida ainda se faz como antigamente...

Semear, cultivar, colher... Semear, cultivar, colher...Semear, cultivar, colher...